O conservadorismo pela visão de Sir Roger Scruton
Sem fugir de polêmicas, o conservadorismo de Roger Scruton é tratado em oposição ao politicamente correto que predomina há anos na academia.
Roger Scruton foi um dos maiores filósofos da nossa geração, era britânico e faleceu em 2020, deixando expressivo legado em livros, conferências e entrevistas; em 2016 foi condecorado como cavaleiro pela Rainha Elizabeth II, e passou a ser tratado como “Sir”.
O escritor nunca fugiu de polêmicas, e sempre de modo elegante expunha suas opiniões sobre o conservadorismo, em oposição ao politicamente correto que predomina na academia há alguns anos.
Scruton destacava que os seres humanos vivem naturalmente em comunidades, unidos por laços de confiança; nós precisamos de uma casa para a vida no amor familiar, uma ocupação para nos sustentar e vizinhos a quem possamos pedir ajuda em caso de ameaça.
Desde os primórdios que os homens se conectam a família e vivem em comunidades para sua nutrição, felicidade e segurança. O conservador sabe da importância da família e da confiança na comunidade para sua longevidade, por isso é preciso conservar a comunidade que temos. Isso é natural na forma como o homem surgiu na Terra, isso é da essência humana, tão quanto a lei da gravidade é da essência da física na criação do mundo; nenhuma lei jurídica ou orientação política pode mudar estas leis naturais.
A vida que levamos na comunidade não é apenas sob cooperação, mas sob saudável competição, com solução pacífica de conflitos que surjam. A competição é fundamental em nosso temperamento, respeitando a liberdade de cada um.
Numa comunidade, seres livres e racionais valorizam sua identidade, possuem ambição individual para viver mais e melhor, com mais comida, energia, instrução, remédios, lazer e conforto.
Uma humanidade que sempre foi pobre neste planeta, chega ao século XXI com a melhor qualidade de vida de todos os tempos, graças aos valores conservadores da família, religião, liberdade, patriotismo, comércio livre e propriedade privada.
Evidente que conflitos surgem neste ambiente natural de competição, conflitos que são entregues para solução a uma autoridade determinada pela comunidade.
A comunidade é composta por indivíduos capazes de escolher livremente, motivados por seus desejos em busca dos recursos naturais disponíveis para prosperar. Como os recursos são escassos, a comunidade cria um governo que terá soberania sobre todos e garantirá proteção a cada um. Este o papel do Estado: garantir segurança e distribuir justiça.
Quais os principais direitos na comunidade? Direito à vida, à liberdade, à propriedade, às trocas, ao comércio, a proferir sua fé, etc., num ambiente de cortesia para dar a cada um o que é seu. Estas regras surgiram espontaneamente nas sociedades antes de alguém ter a ideia de escrevê-las, são leis implícitas nas trocas livres. Por isso, qualquer objeto ocupado ou produzido pelo trabalho, é naturalmente de propriedade do indivíduo, como naturalmente são os braços que trabalharam neste objeto.
O conservador sabe que chegou ao mundo neste séc. XXI com direitos, obrigações , ordenamento jurídico, numa preciosa herança de sabedoria que deve conservar.
Toda a longevidade, tecnologia e liberdade que temos neste século levou muito tempo para ser conquistada, mas pode facilmente ser destruída…
A liberdade do conservador não é ilimitada, ao inverso, trata-se de uma liberdade com responsabilidade, sem anarquia, com respeito às instituições, à família, a Igreja, a escola, a pátria, ao Governo, que garantem que essa liberdade traga prosperidade para todos.
Uma sociedade depende de relações de afeto e confiança construídas a partir da família , na interação face a face na vizinhança, na escola, nos clubes, na igreja. Por isso o fracasso de sociedades totalitárias, construídas de cima para baixo, pela força de uma burocracia estatal distante das leis naturais.
O liberalismo econômico nasceu no contexto social conservador, pois a família é elemento chave da ordem política, de onde o indivíduo parte para a liberdade e o conhecimento, com respeito à propriedade privada e às trocas livres. O mercado livre é indispensável à transferência de riquezas. Deslealdade com a família é grave ofensa.
Estado e sociedade só podem florescer quando não se confundem, por isso o totalitarista usa o Estado para suprimir as corporações , colocando um burocrata irresponsável no lugar do governo, destruindo liberdade dos cidadãos e a personalidade do Estado, que se torna uma face do partido político.
O Estado precisa garantir a liberdade do cidadão, e não ameaçá-la, assim, para não afrontar nossa liberdade, o Estado precisa se afastar da sociedade.
A revolução americana constituiu um país onde costumes e expectativas há muito estabelecidos foram endossados; bem diferente da revolução francesa a hostilizar a Igreja. Os EUA e Grã Bretanha são os países onde o conservadorismo é mais influente.
A sociedade que se concentra na igualdade, perde a liberdade, a cultura, a individualidade, a autoconfiança e as divergências intelectuais; a libertação do indivíduo não se consegue sem manutenção dos costumes ameaçados pela igualdade. Soberania individual exige governo limitado, propriedade privada, livre associação e economia de mercado.
A economia de mercado deixa o preço dos produtos ser determinado pelo sacrifício que uma pessoa quer fazer para obtê-lo, assim apenas um processo de liberdade para as trocas pode estimar esse preço; qualquer interferência estatal nesse processo destrói a informação necessária para tomar decisões econômicas racionais.
A justiça social totalitarista só é obtida por uma elite gerencial burocrática através do confisco de bens privados; bens privados que foram produzidos por meio de acordos livres, frutos da criatividade e do empreendedorismo.
O socialismo cria uma elite para controlar a sociedade ao apagar a chama da competição, atrofiando a economia, trazendo inflação e desabastecimento aos pobres. Os pobres não se beneficiam do socialismo, ao inverso, pois ao atrofiar o talento dos mais capazes, a sociedade igualitária deixa de se desenvolver materialmente. O que mata a fome não é dinheiro, mas produção. Nas economias socialistas não falta dinheiro pois o Estado emite moeda; falta é o que comprar nas prateleiras vazias…
Só numa sociedade livre, os mais capazes vão exercer sua habilidade e trazer prosperidade, e os pobres dependem do sucesso dos empreendedores para ter alguma oportunidade.
O conservador neste séc. XXI defende a civilização ocidental contra o politicamente correto, o socialismo econômico e o islamismo radical. O conservador sabe que as coisas boas são facilmente destruídas pelos políticos, embora demoraram a ser criadas pela sociedade.
Para terminar, recomendo assistir este documentário de autoria de Sir Roger Scruton: Por que a beleza importa?
2 Comentários
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Excelente artigo!
Excelente e foi muito esclarecedor para mim este artigo. Obrigada