Boécio e a consolação da filosofia

Boécio teve bastante tempo para refletir sobre nossa existência, a eternidade e a felicidade; redigiu então a obra “Consolação da Filosofia” em que dialoga com sua consciência, buscando conforto na dificuldade e privação que sofreu na prisão. Esse livro foi um dos mais lidos em toda a Idade Média.

Rafael de Menezes

Formidável a filosofia de Boécio na riqueza dos dois mil anos da Igreja; outro dia eu rezava diante de uma imagem de Nossa Senhora e um sobrinho me interpelou: “Tio, o senhor acredita nesta Santa?”, eu respondi: “Vou confiar mais nas angústias da minha existência efêmera, ou na história de uma instituição que tem dois mil anos?”.

A filosofia de Boécio reforça este raciocínio, e aqui tantos séculos depois, escrevo estas linhas sobre o teólogo romano.

Boécio foi político, matemático, filósofo e teólogo na Roma do século V, era uma pessoa prestigiada e influente, mas terminou preso acusado de traição ao rei gótico Teodorico.

Boécio, ao ser preso, teve bastante tempo para refletir sobre nossa existência, a eternidade e a felicidade; redigiu então a obra “Consolação da Filosofia” em que dialoga com sua consciência, buscando conforto na dificuldade e privação que sofreu na prisão; este livro foi dos mais lidos em toda a Idade Média.

Diariamente nós agimos conforme necessidades de satisfação nesta vida, para atender nossos desejos em busca da felicidade, seja conforto material, seja prestígio social, sejam honrarias na comunidade, seja poder político; todos nós aspiramos à felicidade, e no topo dos bens que não trocaríamos por nada, quem está feliz, não sente falta de nada, tem já tudo, este é o objetivo de nossas vidas.

Mas este caminho para a felicidade é árduo, há perturbações, distrações e desvios; uma pessoa que tem riqueza pode não ser feliz, e segue angustiado para manter o patrimônio acumulado, tentar ganhar mais dinheiro, contratar seguranças, recear ladrões, fugir de bajuladores etc.

O prestígio político seria então a felicidade? Não, porque o poder depende do apoio popular, exige chancela dos súditos, não é autossuficiente,  um mandato sempre termina, há o medo de um golpe de Estado, de uma traição, de um envenenamento e ao terminar o poder vem o ocaso.

A fama seria então a felicidade? Também não, porque o famoso precisa modelar seu caráter para agradar aos fãs; as pessoas públicas precisam sempre justificar sua posição à opinião social; e ainda surgem novos ídolos na comunidade que levam ao esquecimento dos outrora famosos.

A felicidade assim não depende de dinheiro, de fama ou prestígio mas apenas de Deus; quem alcance a transcendência Divina não precisa de nada material na sua vida para estar feliz;  até  um miserável preso injustamente tem acesso à felicidade, por estar Deus em todo o lugar; a felicidade Divina é que vai nos garantir outros bens como o conforto material, a saúde, fama, honra, prestígio e poder; Deus é a primeira resposta para o homem ser feliz, as demais coisas não são dispensadas, mas são vividas em Deus.

E a substância de Deus está na bondade, através da bondade se vê a presença de Deus no cotidiano; um homem verdadeiramente bom é santo, toda pessoa feliz é boa, sendo Deus o sinônimo de bondade; quem faz o mal sofre, se afasta da bem aventurança e da felicidade última: os homens maus são fracos, e o virtuoso sempre é poderoso ao fazer o bem; ora, se Deus não existe, de onde vem o bem?

Leia mais sobre Boécio, busque suas obras e biografias, e cresça no seu desenvolvimento humano, feliz ano novo!

1 Comentário

  1. Nerival Tavares

    Amigo Rafael, você me pediu para ler e fazer críticas sobre o seu texto mas achei todas as colocações que você fez, “perfeitas”.
    Não precisamos de fama, prestígio e dinheiro para sermos felizes, a felicidade verdadeira vem da sua fé em Deus e como ele é justo tudo isso virar por consequência.
    Fiquei muito feliz de saber que você pensa dessa forma.
    Grande abraço e Deus te abençoe.

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