Que não tenhamos leveza em 2021

Nós, brasileiros, não temos o direito de ter leveza em 2021. É egoísta e irresponsável desejar isso depois que 200 mil pessoas morreram.

Paulo Augusto Neto

“Que 2021 seja mais leve para todos”. Esse é um desejo de 10 em cada 10 pessoas nas mensagens de fim de ano. Um recado talvez até honesto, mas, sem dúvida, ingênuo e dito sem pensar.

Nós, brasileiros, não temos o direito de ter um 2021 leve. É egoísta e irresponsável desejar isso.

A leveza pressupõe a espera por um período mais tranquilo, com menos problemas, preocupações, onde cada um deve buscar exercer um suposto modo de sensatez que o impeça de participar de embates, lutas e discussões.

Quando vivemos num país em que 200 mil pessoas morrem em menos de um ano por conta de uma pandemia que, sim, mata, mas que poderia ter matado bem menos – e caminha para matar muito mais -, a palavra leveza precisa ser banida das mensagens de fim de ano.

Enquanto vários países, incluindo vizinhos sul-americanos, já vacinam sua população, o negacionismo genocida do presidente e a omissão de muito parlamentar e governador fazem com que, no Brasil, não saibamos quando seremos vacinados.

Isso, num momento em que uma cepa mais contagiosa do coronavírus, identificada na Inglaterra, já chegou ao Brasil. Ou seja: não temos vacina, mas temos uma versão do vírus que tem 70% mais poder de contágio.

2021, assim como foi 2020, deve ser um ano de sobrevivência. E, para sobreviver, não há outra saída: manter com ainda mais rigor as regras de isolamento social, cuidar de si próprio e dos seus e lutar, da forma que for possível, contra um governo cuja gestão celebra a morte.

Cada um dos mortos da Covid19 no país carrega a rubrica de Jair Bolsonaro. Enquanto ele estiver no poder e se mostrar um ferrenho defensor de medidas de contaminação e morte, não podemos ter leveza. Não temos direito a ela.

Na melhor das hipóteses, que não percamos a ternura. Mas “hay que endurecer”.

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