A felicidade no sermão da montanha

A riqueza da filosofia cristã, as bem aventuranças do sermão da montanha do Evangelho de São Mateus e sua sabedoria luminosa e libertadora.

Rafael de Menezes

A riqueza da filosofia cristã nos dois mil anos da Igreja é impressionante; da Bíblia extraímos lições de moral, filosofia, comportamento para toda nossa vida. Gostaria de destacar as bem aventuranças do sermão da montanha do Evangelho de São Mateus, e sua sabedoria luminosa,  libertadora, a evocar situações humanas difíceis; recomendo a todos compreender e praticar as bem aventuranças,  dentro dos nossos limites, fraquezas e defeitos.

No calvário da cruz Jesus praticou perfeitamente essas bem aventuranças: pobre, aflito, manso, faminto e sedento por Justiça; da mesma forma Maria ao longo da vida. Todos enfrentamos problemas na vida, se hoje sua rotina é de fartura, alegria, juventude, faça uma reserva como um poço no momento da seca; e saiba que a doença, velhice, morte e solidão em algum momento chegarão; o homem precisa aceitar os infortúnios, revolta é pra quem não tem conhecimento.

Praticar as bem aventuranças no dia a dia é encontrar a felicidade que nos consola e repousa; a vida em comunidade é o local essencial para viver as bem aventuranças junto a família, os vizinhos, os amigos, os colegas de trabalho, vamos a elas:

1 – a pobreza de espírito: trata-se da liberdade de tudo receber de graça e dar de graça, adquirindo o poder da autoridade e da comunicação; nossos dons não são conquistados mas acolhidos, é dar tudo que recebemos com a mesma generosidade que Deus nos beneficiou; pobreza de espírito é humildade de aceitar que não somos senhores do momento, precisamos aceitar os despojamentos com esperança e caridade, confiando nos caminhos imprevisíveis da vida, pois o tempo e os planos não são nossos; pobreza de espírito está no amor compartilhado, o amor retribuído é uma graça divina, amar é acolher o outro em sua fraqueza, sem querer dominá-lo, sem a arrogância da competição; faça o que deve ser feito, nada reivindique, não queira impor sua opinião;  ser pobre de espírito é reconhecer que tudo que temos e somos nos foi dado gratuitamente pela misericórdia divina; nós só possuímos o que recebemos, não há do que se gabar, pelo que devemos ser gratos com a humildade verdadeira, fonte de alegria em cada dia vivido.

2 – os que choram serão consolados: toda lágrima será consolada no tempo de Deus, seja lágrima de arrependimento pelo próprio pecado, seja a lágrima pelo sofrimento, seja a lágrima da compaixão,  afinal é consolando os outros que nós somos consolados; ao receber conforto, seja consolador com amor daquele que tem necessidade; esta vida passa, somos pó, a efemeridade da vida nos revela que aquilo que não passa, que não morre, são as boas ações praticadas em nosso favor e especialmente dos outros; viver é doar-se! Só o amor, a caridade, a liberdade, o trabalho, a família, pode nos levar a compreender a verdadeira dimensão desta vida

3 – mansidão: é agir com ternura e delicadeza, mesmo ao exercer poder e autoridade ; Jesus tinha força para curar os doentes mas sempre com mansidão que abria os corações, afastando a arrogância dos  que duvidavam Dele; mansidão não é moleza, mas energia interior para resistir a cólera, a violência e a soberba;  a oração e a eucaristia trazem mansidão ao nosso espírito, afasta a amargura, temor, agitação e angústia do nosso coração ; o triunfo do mal é provisório, o manso permanece calmo e confiante na justiça; o manso domina a cólera,  tem força sem ódio!

4 – os que tem fome serão saciados: a justiça chega com esplendor conforme empenho de cada um na transformação da sociedade; abra seu coração para a fé, transforme sua alma, converta seu espírito para servir ao próximo; não desanime pela miséria da velhice, doença, morte, solidão que chega para todos nesta existência; sua fome e sede serão saciadas para que você se torne alimento ao outro, e tais boas ações são uma prova da existência de Deus.

5 – misericórdia: quem pratica a misericórdia igualmente será perdoado, isso é uma lei da condição humana, fechar seu coração ao próximo é fechá-lo às bênçãos da vida; semelhante a lei da física, o mal que faço ao outro se voltará contra mim, por isso pratique a misericórdia, viver é servir, ajude o próximo; além disso, se o pecador fez a vítima sofrer, essas feridas só se curam completamente com o gesto de fé e de esperança chamado perdão; a vítima de uma agressão só se liberta da ferida com o perdão ao agressor, que livra o coração das energias ruins da amargura.

6 – os puros de coração verão a Deus: a pureza, a retidão, a sinceridade, a simplicidade iluminam nossa existência, traz felicidade; um coração impuro não enxerga Deus na rotina e suas ações em nossa vida.

7 – os pacíficos são filhos de Deus: quem deseja paz, ordem, plenitude, conforme bem aventuranças anteriores,  se livra da frustração, do vazio interior e agitação da alma; o pacífico realiza sua vocação nesta vida, alcança a tranquilidade psicológica da paz interior; se não estamos em paz, não temos discernimento para conduzir nossa rotina e nosso trabalho; repouse então seu coração e seus pensamentos na esperança e na paz.

8 – bem aventurados os perseguidos e caluniados: a recompensa destes será a felicidade; aceitar injustiça e sofrimento é o grau ultimo da liberdade espiritual; não é fácil sofrer discriminação, mas  aceitar uma injustiça é testemunhar a fé que consola os questionamentos da vida. Uma pessoa sem fé, pode achar que a vida não tem significado, é apenas fruto do acaso, a tornar a existência vazia e depressiva. Por isso os psicólogos e terapeutas tem tanto trabalho a prescrever ansiolíticos. Saia do divã e do calmante, abra seu coração para o encanto, êxtase, alegria da criação diviva; deixe o vazio para o que é verdadeiro, belo e eterno.

9 Comentários

  1. João Bosco V. Almeida

    Palavras que vem da sabedoria Divina,recebida pela Graça de Deus. Ao meu querido amigo forte abraço.

  2. Rafael de Menezes

    Filosofia, teologia, psicologia estão todas conectadas. Tanta gente na terapia, depressão e ansiolítico. Peço uma chance para a fé, abram seu coração para Deus !

  3. Josefa dos Reis Lins

    Mateus, cobrar de impostos, convidado por Jesus para seguí-lo.
    Muito lindo sua reflexão sobre as Bem-aventuranças. Elas foram anunciadas por Jesus aos que não se apegam a este mundo, as quais devem ser o sal que transforma em luz o coração do homem.
    Parabéns!
    Continue no caminho da verdadeira conversão.
    Ainda em Mateus 11,30 “…meu jugo é suave e meu peso é leve” .

  4. Muito bom, Dr. Rafael. Para quem quiser aprofundar este tema, recomendo ler sobre a relação entre as bem aventuranças e a doutrina da contemplação de São Tomás de Aquino

  5. Guilherme Marinho

    Palavras sábias tio Rafael!

  6. JOSÉ IVO DE PAULA GUIMARÃES

    Prezado Rafael, Dominus vobiscum .
    O sermão da montanha, sem dúvida, é uma confirmação comportamental para nossa vida cristã.
    Devemos nos conscientizar das bem aventuranças mencionadas no Santo Evangelho e tão bem descritas pelo nobre colega.
    Parabéns pelo artigo.

  7. João Batista Dantas de Medeiros

    Caro Dr Rafael
    Li com atenção o seu artigo e não há quem não se sensibilize com as verdades nele contidas…
    Confesso que me surpreendi, pois mesmo afastado da leitura bíblica, pratico com naturalidade os ensinamentos ali transcritos.
    DEUS escreve certo por linhas tortas, já diz o adágio popular e talvez por isto mesmo eu tenha tido a ventura de me inserir neste grupo, tão eclético e no entanto tão vocacionado para a ética, a lealdade, a fé e a caridade.
    Sigamos avante e que possamos com o andar do tempo, nos aproximar das verdades contidas nas leituras e do prazer de praticar boas ações nesta existência.
    Parabéns pelo artigo…

  8. Maria Auri.

    Parabéns pela riqueza das palavras que tocam tão profundamente os nossos corações. DEUS é amor. Quando todo ser humano aprender a amar não teremos mais guerras nem injustiças. O sermão da montanha é um resumo dos ensinamentos de Jesus sobre o amor que nos liberta.

  9. Walter Martins de Oliveirs

    Parabéns. São ricas palavras que tocam nossos corações e nos levam, a refletir profundamente ao evangelho, e ao amor de Jesus Cristo, pela humanidade.

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