A arte pode ser comercial ou precisa sempre ser intelectual?

O imperialismo cultural é uma tristeza, mas definições como indústria cultural talvez tenham sido criadas para estabelecer degraus que separam quem se acha intelectualmente superior às preferências das massas.

A arte pode ser comercial ou precisa sempre ser intelectual?

Malcolm & Marie (2021), do diretor Sam Levinson. Foto: reprodução de tela / Netflix

Amanda Thalita

Malcom & Marie estreou há pouco na Netflix. Acredito que todos que tiveram contato com a história do filme sabem seu tema principal: um relacionamento decadente composto de duas pessoas conturbadas. Isso nem de longe foi o ponto alto pra mim. O longa puxou a discussão que ronda minha vida há algum tempo: a arte pode ser comercial?

Acho que o grande responsável por minhas noites mal dormidas pensando no assunto é ninguém menos que Romero Britto. Existe artista plástico mais puramente comercial?

Há quem compare a arte de Romero com a pop art dos anos 60. Acho desonesto. A pop art veio da crítica pelo exemplo. Romero não veio com a crítica, apenas com o exemplo. Mas não estou aqui para falar das origens das minhas questões ou de artes plásticas, estou aqui para falar de cinema, comercialização e imperialismo.

O cinema é a arte capitalista de nossos tempos. Foi responsável pela propagação de ideias vigentes na cultura norte americana (alô, american way of life). Alguém aqui consome cinema não estadunidense com a mesma frequência de produções dos EUA? Porque eu não.

Oswald de Andrade escreveu um dia que “o índio não era monogâmico, nem queria saber quais eram seus filhos legítimos, nem achava que a família era a pedra angular da sociedade. Por que será?”.

Desde que mundo é mundo, culturas subjugam, condenam e buscam extermínio de outras. Como defensora da máxima autonomia dos povos, não tenho dúvidas de que o imperialismo cultural é uma tristeza.

Mas minha questão até hoje sem resposta é: a arte comercial é de todo ruim? Será que o cinema precisa despertar a crítica e fazer refletir a vida sempre?

Muitas vezes penso que definições como indústria cultural foram criadas apenas para estabelecer degraus que separam os que se consideram intelectualmente superiores da cultura das massas. As futilidades são intrínsecas ao Homem, por que a renegamos?

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