O Brasil sobrevive, na medida do impossível

Aos trancos e barrancos, o Brasil sobrevive a tantos ataques de todos os lados: na política, nas redes sociais, nas ruas, nas escolas.

Ricardo Pecego

Enquanto o Planalto definia um novo Ministro da Saúde, para tentar abrandar o visível genocídio que operam no Brasil utilizando a Covid19 como arma de extermínio, uma parcela da população brasileira se revolta e sai as ruas.

A revolta não se dava pelo apagão na saúde pública, onde até uma simples fratura de braço pode significar a impossibilidade de tratamento. A revolta não acontecia em protesto da inoperância do governo federal.

A revolta era pela maneira de contenção do vírus adotadas pelos governadores dos estados brasileiros.

Será que isso configura apoio à inoperância do governo federal? Em parte, sim, mas existem muitas vítimas deste duelo que não suportam mais tanta indiferença e incompetência de ambos.

Toda essa operação política tem, como força motriz, algo que se utiliza com frequência para amedrontar multidões: o medo. Num cabo de guerra inconsequente, governadores e o presidente da república medem forças sem observar o drama da população – uns morrem doentes, enquanto outros entram em dramática crise financeira e colapso mental.

A confusão no Brasil é tão grande que se formos abrir o leque de motivações de cada um dos lados que brigam, teríamos um memorial descritivo para análise psicanalítica da sociedade brasileira. Em vez do berço esplêndido, poderíamos deitar num divã, por horas a fio, declamando tramas e encadeamentos de acusações plantadas habilmente nas redes sociais, que atiçam rivalidades e a polarização. Redes sociais em que os políticos atuam muito melhor do que qualquer função pública a que foram eleitos por sinal.

Quem briga, efetivamente falando, é a população. Podem ser qualificados como alienados, negacionistas, ativistas, todos encontrados nos dois lados desta peleja. O fato maior é que os que acreditam no governo federal e na falta de importância da vacinação, de meios de isolamento social e uso de máscaras contra o contágio do coronavírus, se aglomeram sem pudor. Já quem briga pelo isolamento social não se aglomera, seu protesto contra o comportamento dos demais não aparece, pois temem os riscos de tal atitude.

O presidente se aproveita dos métodos maquiavélicos de gestão da pandemia por parte dos Estados para se isentar de culpa. Justamente nesses métodos encontramos o cerne das manifestações recentes de março, que atingem principalmente a classe média, os comerciantes e pequenos empreendedores. Essa gente está impedida de trabalhar, contudo seus gastos permanecem os mesmos – custos de aluguel, água, luz, ICMS, ISS, IPTU, salários e recolhimentos trabalhistas – como podemos pedir que alguém permaneça fechado, isolado, sem aliviar dele todas estas cargas?

A grande massa da sociedade no Brasil responde ao duelo entre governos estaduais e o federal diminuindo a importância de medidas de segurança, aproveitando para viajar, organizando festas clandestinas, reunindo as pessoas em chácaras e casas. Desta maneira, sem a aderência da população às restrições, não havendo eficácia no isolamento social, tornando as pessoas descrentes.

Artistas famosos (alguns deles), grandes empresários, são internados com Covid19 gente que economicamente não tem problemas, que pode ficar em casa e se isolar adequadamente, mas que não deixam o glamour dos holofotes de lado por nada. São tão perigosos quanto aqueles que ainda duvidam da existência da doença.

Tanta gente mais simples, que está apertando cinto para superar este período, segue as restrições de maneira adequada, mas se este imbróglio não se resolver, se não tivermos uma campanha de vacinação em massa, estas pessoas não vão resistir servindo de transmissores do vírus num futuro próximo, numa terceira ou até quarta onda.

Vejam o que aconteceu nas escolas, que tortura, que martírio viveram funcionários, professores, pais e alunos desde janeiro. As pessoas estavam convictas, apesar do aumento da disseminação da doença, que as aulas presenciais seriam seguras. Os pais responsáveis estavam simplesmente desesperados, pois apesar de não serem afetadas em grande número, as crianças podem pegar e morrer de Covid19. Pais responsáveis não querem que seus filhos sejam parte dessa estatística.

Esse movimento de volta as aulas tomou força por conta das fotos de famílias nas praias no fim de ano. Os “juízes” das redes sociais decretaram que todas as crianças estavam gozando destas liberdades, e defendiam o retorno das aulas. Quem se colocou em risco junto de seus familiares hoje pode não mais curtir as fotos que circularam em abundância no instagram e facebook, mas generalizar esse comportamento é típico de quem não olha o próprio rabo.

O esquema de aulas online, que aconteceram em 2020, estava de certa maneira organizado, o acesso das crianças sendo melhorado com ações inteligentes como do chip solidário. Em virtude de um desespero, de querer camuflar a realidade, se desmontou todo esse aparato, as aulas retornaram presenciais e não perduraram por mais que um mês, quando muito. Alguns funcionários, professores e alunos morreram em função disso.

Dentro do plano de vacinação dos Estados, os professores e funcionários das escolas não foram imunizados, policiais não foram imunizados (só agora surgem anúncios a respeito), tudo feito de maneira apressada, como se em 2020 não tivesse havido tempo suficiente para um plano de ação elaborado, que seria aplicado assim que as vacinas fossem aprovadas pelos devidos órgãos competentes.

Faço votos que esta situação seja enfim superada, mesmo sabendo que ainda vai piorar.

Cidades imensas como Campinas e Riberão Preto (polos universitários) entraram em colapso, medidas que impedem nosso direito de ir e vir (mesmo utilizando máscara e demais cuidados preventivos) estão sendo aplicadas e o pânico pode surgir. Ainda muita água suja, desta política que toma conta do país desde a ditadura militar, deve correr neste ano de 2021.

Não entre na euforia de uma eleição antecipada, fuja de qualquer método preventivo a base de medicamentos milagrosos, o único remédio que funciona é a vacina, exija de seus representantes uma ampla vacinação e tome todos os cuidados necessários quando tiver que se expor em função de sua sobrevivência. Cuide-se e cuide do próximo estamos todos neste barco em mar tortuoso guiado infelizmente por gente muito pouco hábil.

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