O professor está online, mas o planejamento é crítico?

O professor não precisa sentir receios. Ao contrário, ele deve buscar inserir as diversas ferramentas tecnológicas no seu planejamento, bem como fazer com que os alunos olhem criticamente as diferentes práticas linguísticas.

O professor está online, mas o planejamento é crítico?

Foto: Katerina Holmes / Pexels / Uso livre.

Everton Silva

Devido à crise sanitária causada pela Covid19, o sistema educacional básico brasileiro passou por diversas mudanças, como a implementação do ensino remoto, uma modalidade de ensino que mescla aulas síncronas com assíncronas e que possui uma semelhança muito grande com o ensino presencial, principalmente por causa das diversas ferramentas tecnológicas, como o Google Meet, em que o aluno e o professor podem interagir no chat e/ou ser ouvido ao usar o microfone.

Embora a pandemia tenha chegado de forma abrupta e mudado toda a concepção prática e tradicional construída sobre ensino, determinados docentes continuam realizando um planejamento das aulas que não consegue observar criticamente o atual contexto e o uso das tecnologias como mediadoras do fazer pedagógico, o que gera impactos na aprendizagem dos discentes.

Antes da paralisação das aulas, as tecnologias eram utilizadas de forma limitada dentro das escolas. Entretanto, a partir do momento em que a utilização das tecnologias se tornou a única forma de se realizar a prática pedagógica, um processo de letramento digital foi iniciado pelo professor e pelo aluno.

Nesse contexto, o planejamento construído para o ensino presencial não se aplica, pois novos horizontes educacionais foram abertos, exigindo que o docente saiba guiar criticamente seus educandos nesse grande volume de informações presente no ambiente virtual. Apesar disso, percebe-se um apego ao ensino tradicional, que desconsidera a cibercultura em seu planejamento, sobretudo porque muitas pessoas não veem nas ferramentas tecnológicas um espaço educativo, só de entretenimento.

Assim, infelizmente, o aluno não consegue olhar criticamente o que está no seu dia a dia, muitas vezes antes de chegar à instituição de ensino, e o professor perde a oportunidade de demonstrar os diferentes diálogos possíveis entre tecnologia e escola.

A longo prazo, esse impasse também pode afetar a vida profissional desses estudantes, uma vez que a demanda do mundo de trabalho por pessoas que saibam mesclar teoria com a prática mediada por ferramentas tecnológicas é cada vez maior, sobretudo na pandemia, em que o futuro se torna ainda mais incerto. Dessa forma, em vez de dar um bom aparato ao aluno, as instituições de ensino básico perpetuam uma prática pedagógica que não dialoga com as diversas práticas sociais realizadas pelos educandos.

Portanto, o professor não precisa sentir receios; ao contrário, ele deve buscar inserir as diversas ferramentas tecnológicas no seu planejamento, bem como fazer com que os alunos olhem criticamente as diferentes práticas linguísticas realizadas no ambiente virtual e construam conhecimentos sobre os lados negativos e positivos desses diversos usos possíveis. Com isso, talvez fique ainda mais explícita a inconclusão da prática pedagógica defendida por Freire e evidenciada na pandemia a partir das novas demandas.

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