Por que é tão difícil entender a lógica das criptomoedas?
Ao falar em criptomoedas e criptoativos, a população continua bastante desinformada sobre as utilidades e benefícios da tecnologia de blockchain. A imprensa não ajuda e às vezes dificulta, mas como fazer uma campanha educacional quando a maioria das pessoas não sabe nem o que vai comer amanhã?
Foto: Worldspectrum / Pexels / Reprodução autorizada para uso livre.
Criptomoedas e criptoativos, na maioria das vezes, são vítimas de muita desinformação pela imprensa. Ora para fazer o hype da criptomoeda, que enriqueceu alguns felizardos rapidamente e que vai mudar o mundo para melhor, ora para detonar toda a tecnologia sem separar o joio do trigo por causa dos golpes de pirâmide, os conhecidos esquemas Ponzi.
A população, em geral, continua desinformada sobre as utilidades e benefícios da tecnologia de blockchain.
A maioria não tem acesso, não sabe do que se trata e, até pior, a pequena parcela que teve algum contato está majoritariamente decepcionada com criptomoedas e associa fortemente o termo a esquemas de ficar rico rapidamente sem fazer força. E isso a gente já sabe que, em toda história, sempre vai dar errado.
Quando a gente é jovem, rapidamente se entusiasma com o que há de “moderno” porque simplesmente não teve chance de vivenciar esse moderno que já passou por aqui há anos, quando os jovens nem eram nascidos. Criptomoeda vai ser, sim, uma variável revolucionária na vida das pessoas e de uma forma boa. Só que não vai ser por deixar alguém rico da noite para o dia, especulando seu dinheiro de poupança da vida toda num negócio que a maioria não sabe exatamente como funciona.
E aí é que mora o perigo e a oportunidade que os golpistas souberam aproveitar de forma perfeita e cruel.
O princípio básico da economia precisa ser respeitado: de onde vem a riqueza que está remunerando esse investimento? Toda vez que alguém tiver dificuldade em responder essa pergunta, desconfie.
Não tem mágica. Dinheiro não nasce em árvore. Quem ganhou muito dinheiro com bitcoin, hoje tem sua riqueza em que moeda? Não é bitcoin, concorda? Fulano ganhou milhões de dólares, reais, euros, patacas, pesetas, o escambau! Mas é dinheiro convencional.
Esse sortudo “investidor em criptoativos” pode até pagar a Ferrari último modelo que ele comprou de um outro milionário que aceitou bitcoin como pagamento. Mas, para abastecer, para comprar pão, para pagar a conta de energia, a fatura do cartão de crédito, vai precisar de dinheiro. De verdade.
E aí está o problema do bitcoin que a maioria dos investidores não viu.
O bitcoin, por limitações técnicas, por uma questão estrutural, não é capaz de processar a imensa, gigantesca quantidade de transações que uma economia de tamanho relevante gera por minuto.
Uma transação bitcoin em meados de 2022 leva algo em torno de 2 a 3 horas para ser confirmada. Isso a inviabiliza como moeda de troca. Esse era o valor que o bitcoin teria a agregar a economia. Um sistema descentralizado de troca de valores, inviolável, em que quaisquer duas pessoas podem trocar valores entre si com um custo zero ou muito próximo disso.
Só tem esse probleminha, é lento demais. Ainda.
Nenhum comerciante vai deixar o cliente levar a sacola de compras que ele pagou com bitcoins se a transação só for confirmada horas depois. E se o saldo não pagar a compra? Se a transação não for confirmada? Como fica o comerciante?
Quem compra bitcoin em operadora de câmbio não vê isso. A operadora honesta confirma o débito só quando a transação é confirmada. Inclusive pela taxa de câmbio daquele instante! Que é outra coisa complicada com bitcoin. A taxa de câmbio flutua muito rápido! E é impossível regular o câmbio na rede bitcoin.
Toda vantagem (imunidade a manipulação por bancos centrais) tem sua desvantagem (o câmbio funciona como movimento browniano, mudando a todo instante, só que com anabolizantes).
Essa história toda é um resumo com fins didáticos. Mesmo assim, me parece longe de virar uma grande pauta na mídia e longe de capturar o interesse de muita gente. A ignorância é causada por essa aversão a ter que pensar, a ter que se esforçar mais para entender um conceito totalmente abstrato como uma blockchain e que tem valor! Nunca existiu no papel, nunca ninguém tocou e a rigor ninguém viu. Só existe… na nuvem computacional!
Parece uma coisa bem ao estilo “no-pai-no-filho-e-no-espírito-santo-amém“, não é mesmo? Difícil de entender. É mais fácil acreditar que vai ficar rico sem fazer força.
A imprensa não tem esse alcance de explicar direitinho. Seria preciso uma campanha educacional. Francamente, uma campanha educacional sobre criptomoeda, voltada para uma população que mal tem o que comer? Tem um monte de outras campanhas educativas mais prioritárias. O jeito vai ser aprender sofrendo mesmo.
É igual você tentar explicar para a criança não colocar o dedo na tomada. Tem elétrons oscilando a corrente 60 vezes por segundo numa tensão de 220v que é capaz de fazer o coração parar. Não funciona assim. O menino vai lá e mete o dedo na tomada do mesmo jeito, leva um choque e aprende. Se sobreviver, lógico.
O mesmo acontece com as criptomoedas.
Menino! Não põe o dedo de dinheiro na tomada da pirâmide financeira que não agrega valor algum a economia e que apenas remunera o velho investidor com o dinheiro investido pelo novo otá… ops, investidor! Não funciona.
O menino bobinho insulta você, diz que você é velho e não está entendendo a nova tecnologia porque no seu tempo as coisas eram pagas com papel moeda.
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