Tábata Amaral não representa as mulheres no parlamento

Se Tábata Amaral fosse negra, estaria sendo achincalhada por todo mundo sem direito à resposta. O meu feminismo não cabe para Tábata. Porque o que protege Tábata não é feminismo. É o pacto narcísico da branquitude, como nos ensinou Cida Bento.

Tábata Amaral não representa as mulheres no parlamento

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil / Uso autorizado.

Nathália Diórgenes

Eu não gosto de escrever sobre as mulheres. Não por respeito às mulheres das elites, mas porque na minha lista de críticas, o item homens brancos é bem longo. E quero deixar claro que sou radicalmente contra as ameaças que ela sofre.

Mas há pontuações importantes.

Vou começar pelo óbvio: se Tábata Amaral fosse uma mulher negra, estaria sendo achincalhada por todo mundo sem direito à resposta.

Lembram da Luislinda Valois? Pois ninguém mais se lembra depois da sua passagem polêmica no governo Temer.

O meu feminismo não cabe para Tábata. Porque o que protege Tábata não é feminismo. É o pacto narcísico da branquitude, como nos ensinou Cida Bento.

Tábata não representa as mulheres no parlamento.

Ela é uma ameaça aos direitos das mulheres: votou pela reforma da previdência, minirreforma trabalhista (perversa), privatização dos correios etc.

Teve, inclusive, a ousadia de dizer que a legislação sobre aborto no Brasil já era suficiente. Desumano falar isso em um país com o índice grotesco de mortalidade materna, tendo o aborto clandestino com uma das principais causas.

Os direitos das mulheres não se restringem aos “direitos específicos”. Toda a política de ajuste fiscal defendida por Tábata massacra principalmente a vida das mulheres e população negra.

Tábata não se importa com as mulheres. Apenas se importa com seus aliados políticos.

Se o patriarcado não constrói sua vida? Claro que sim. A de todas nós. Porém, seus privilégios constituem para ela outros contextos. O racismo a protege, as estruturas de classe também.

O meu feminismo está preocupado com Mirtes, mãe de Miguel, que neste momento enfrenta um briga de Davis e Golias pedindo justiça pelo seu filho. A defesa de Sari Corte enveredou pelo caminho de desmoralizar Mirtes como mãe e tratar Miguel como criança “problemática”. Argumento escravocrata: a “mãe preta” só serve para cuidar dos filhos das mulheres brancas, mas não dos seus próprios. Tudo tão cruel que ainda nem consigo organizar as ideias para falar sobre.

O que Tábata faz no Congresso, as políticas que ela apoia, como ela vota e com quem se articula torna as vidas das Mirtes cada vez mais desumanas e insuportáveis.

Então me poupe.

1 Comentário

  1. Ricardo Pecego

    Texto mais que necessário. Parabéns!

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