Tábata Amaral não representa as mulheres no parlamento
Se Tábata Amaral fosse negra, estaria sendo achincalhada por todo mundo sem direito à resposta. O meu feminismo não cabe para Tábata. Porque o que protege Tábata não é feminismo. É o pacto narcísico da branquitude, como nos ensinou Cida Bento.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil / Uso autorizado.
Eu não gosto de escrever sobre as mulheres. Não por respeito às mulheres das elites, mas porque na minha lista de críticas, o item homens brancos é bem longo. E quero deixar claro que sou radicalmente contra as ameaças que ela sofre.
Mas há pontuações importantes.
Vou começar pelo óbvio: se Tábata Amaral fosse uma mulher negra, estaria sendo achincalhada por todo mundo sem direito à resposta.
Lembram da Luislinda Valois? Pois ninguém mais se lembra depois da sua passagem polêmica no governo Temer.
O meu feminismo não cabe para Tábata. Porque o que protege Tábata não é feminismo. É o pacto narcísico da branquitude, como nos ensinou Cida Bento.
Tábata não representa as mulheres no parlamento.
Ela é uma ameaça aos direitos das mulheres: votou pela reforma da previdência, minirreforma trabalhista (perversa), privatização dos correios etc.
Teve, inclusive, a ousadia de dizer que a legislação sobre aborto no Brasil já era suficiente. Desumano falar isso em um país com o índice grotesco de mortalidade materna, tendo o aborto clandestino com uma das principais causas.
Os direitos das mulheres não se restringem aos “direitos específicos”. Toda a política de ajuste fiscal defendida por Tábata massacra principalmente a vida das mulheres e população negra.
Tábata não se importa com as mulheres. Apenas se importa com seus aliados políticos.
Se o patriarcado não constrói sua vida? Claro que sim. A de todas nós. Porém, seus privilégios constituem para ela outros contextos. O racismo a protege, as estruturas de classe também.
O meu feminismo está preocupado com Mirtes, mãe de Miguel, que neste momento enfrenta um briga de Davis e Golias pedindo justiça pelo seu filho. A defesa de Sari Corte enveredou pelo caminho de desmoralizar Mirtes como mãe e tratar Miguel como criança “problemática”. Argumento escravocrata: a “mãe preta” só serve para cuidar dos filhos das mulheres brancas, mas não dos seus próprios. Tudo tão cruel que ainda nem consigo organizar as ideias para falar sobre.
O que Tábata faz no Congresso, as políticas que ela apoia, como ela vota e com quem se articula torna as vidas das Mirtes cada vez mais desumanas e insuportáveis.
Então me poupe.
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Texto mais que necessário. Parabéns!